Conduzir a Cristo
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
Após ter encontrado o Senhor, André diz a Simão: “Encontramos o Messias” (Jo 1,41). E “conduziu-o a Jesus” (Jo 1,42), que lhe dá novo nome: Pedro! Nós somos chamados por Deus, pelo nome, somos únicos. Nossa resposta é sempre pessoal, intransferível. Por isso, precisamos, na nossa vida afirmar, com consciência, “eu creio”. Fizemos isso ou nossos padrinhos, pela primeira vez, no dia do nosso batismo. Cada um de nós é responsável diante de Deus por sua vida, seus atos, suas ações. Porém, precisamos de alguém que nos oriente, nos guie, que nos conduza a Cristo.
A Tradição da Igreja nos tem legado um importante auxílio para crescermos na fé e no amor a Jesus Cristo, fazendo boas obras. Dependemos um do outro. Primeiro, nossa família. Depois, a comunidade de fé, a iniciação à vida cristã, o testemunho dos que nos antecederam e tantos outros caminhos. Um deles, que neste tempo está sendo redescoberto e incentivado é o guia espiritual, que pode ser a paternidade ou maternidade espiritual. Não precisa ser padre, pode ser um leigo, uma mulher, uma consagrada e, também, um presbítero. Mas esta não é a missão do(a) psicólogo(a)? Não, nós somos corpo, alma e espírito. A dimensão espiritual é conduzida, orientada por um membro da Igreja. Claro, um psicólogo também o pode, mas não é seu específico. A dimensão psíquica sim, cabe, preferencialmente, a um profissional da Psicologia.
O guia espiritual não se forma unicamente por ter feito um curso especial para esta missão, que normalmente ajuda. Mas são pessoas que conhecem os movimentos interiores do ser humano. Que tenham já se deparado com as perguntas fundamentais da pessoa humana: Quem sou eu? De onde vim e para onde vou? Porque estou neste mundo? Qual minha missão fundamental? O que me fará feliz? Então, o guia espiritual não é decretado, ele tem um dom natural e que foi se formando com sua vida, seu empenho e a capacidade de escutar. O importante é que tenha feito um caminho de vida espiritual. Ele mesmo se reconhece como alguém que está a caminho com o Deus vivo.
O guia espiritual sabe conduzir a pessoa para fora de si. Sim, as respostas às perguntas fundamentais são buscadas fora de nós! O ser humano se descobre, como alguém que sai de si e se encontra com outro e com um Outro, Deus. Este é um grande desafio para nosso tempo. Não é somente um olhar individualista: eu gosto, eu quero, eu penso. Temos um Outro com quem nos encontrar. O guia espiritual acolhe o desejo de Deus, que já está no seu coração. A fé cristã, que parte do Filho que nasceu da Virgem Maria, nos mostra que aquele que segue Cristo, encontra-se a si mesmo, é mais feliz.
A disposição de colocar-se no caminho para ser um bom discípulo de Cristo é a segunda característica do que procura ser guiado. Ao guia espiritual cabe conduzir a Cristo. Apresenta Cristo, ajuda a olhar para ele, a escutá-lo na sua Palavra, no seu olhar, na sua misericórdia que sempre acolhe e cura. O exemplo dos dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35) é ilustrador. O Ressuscitado caminha com eles, abre-lhes a Escritura, aquece seu coração, se revela na Eucaristia e os envia em missão. Muito ajudará o hábito de uma vida de oração cotidiana, com fidelidade, pois é no encontro permanente com o Senhor que nos descobrimos quem somos e qual nossa missão. Então, a missão do guia espiritual, àquele que se abre, que fala de si, de suas buscas, é conduzir a Cristo. Não é dar respostas. Ambos se colocam abertos à ação do Espírito Santo, que integra, cura e consola. O orientador, claro, como Paulo, sofre “dores de parto” (Gl 4,19), até que a pessoa encontre a verdade.
Você já escolheu seu guia espiritual?