Os leigos e o direito de viver

Dom Manoel Delson
Arcebispo da Paraíba

    Neste quarto domingo do mês de agosto, a Igreja do Brasil convida seus fiéis para celebrar a vocação e o serviço dos leigos no apostolado eclesial e na transformação do mundo. O que celebramos? Qual a missão dos leigos? Enfrentamos grandes desafios sociais, e cabe aos leigos levar a cabo a superação desses impasses. Mas para tal, os batizados “devem ser preparados espiritualmente, profissionalmente e eticamente. A Mater et magistra insistia não somente na formação, mas sobretudo na educação que forma cristãmente a consciência e leva a uma ação concreta” (Papa Emérito Bento XVI).

   A missão dos leigos não limita-se aos espaços internos da Igreja, mas diz, principalmente, sobre o encargo de levar Cristo a todos os espaços sociais. O mundo moderno desacostumou-se do primado de Deus, parece que a fé cristã não interessa mais aos homens e mulheres que continuam sedentos da caridade e da justiça.

   Quem é Jesus para os homens deste tempo? Certa vez, Simão Pedro afirmou que Jesus é o Messias, o Filho de Deus (Cf. Mt 16,16). O protagonismo dos leigos, bem mais acentuado a partir do Concílio Vaticano II, garante que o testemunho dos leigos deve girar na orbita dessa resposta de Pedro: Jesus é o Filho de Deus. Tal resposta não é somente uma informação conceitual de Deus, mas toca à nossa vida de batizados, de convocados para permanentemente partir em missão pelas estradas do mundo. Do mundo que tanto tem se especializado nos grandes avanços tecnológicos, mas que, infelizmente, tem posto Deus de lado.

   Dizer que Jesus é o Verdadeiro Filho de Deus exige testemunhar a cultura da vida. Não há como seguir a Cristo se titubeamos, se abrimos concessões com o fim de negociar a vida humana no balcão da cultura do bem estar e das falsas garantias de um pretenso humanismo que salvaguarda os direitos das mulheres, que realmente é algo justo e querido, mas que mata a vida de inocentes que não podem se defender. Para onde caminhamos? O Papa Emérito tem um pensamento muito profético e que nos alerta sobre a busca do verdadeiro bem humano: “Sem o conhecimento do verdadeiro bem humano, a caridade cai no sentimentalismo; a justiça perde sua ´medida´ fundamental (…)”. Qual a justiça e a caridade que os leigos e  leigas devem buscar na transformação do mundo? O seguimento de Nosso Senhor sempre nos colocará na vanguarda da defesa da vida humana. Nossa fé cristã não é alienante; somos autorizados, a partir do nosso santo batismo, a defender o verdadeiro humanismo, que torna o convívio social a casa de todos: pobres, marginalizados, pessoas idosas, jovens, nascituros. A verdadeira caridade que damos ao mundo, como bons cristãos, passa pelo anuncio explicito do Evangelho de Cristo, e este, garante a todos a vida em abundância: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10,10).

   O direito da vida, desde a sua concepção até o seu declínio natural, deve ser garantindo em todas as circunstâncias. Na doutrina católica, não há espaço para dúvidas. Somos provida! Vivemos em sociedades plurais, e que muitas das vezes, renegam o referido direito. Contudo, a Igreja de Cristo sempre se oporá a esse “estilo de vida moderna” que coloca a cultura do bem estar acima do direito dos nascituros. Que Nossa Senhora das Neves nos ajude sempre no anúncio da cultura da vida e que nunca nos falte coragem diante de contextos tão sombrios.

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